quinta-feira, 31 de outubro de 2013


A oração de Ana. (2.1-10)
“Então, orou Ana e disse: O meu coração se regozija no SENHOR, a minha força está exaltada no SENHOR; a minha boca se ri dos meus inimigos, porquanto me alegro na tua salvação. Não há santo como o SENHOR; porque não há outro além de ti; e Rocha não há, nenhuma, como o nosso Deus. Não multipliqueis palavras de orgulho, nem saiam coisas arrogantes da vossa boca; porque o SENHOR é o Deus da sabedoria e pesa todos os feitos na balança. O arco dos fortes é quebrado, porém os débeis, cingidos de força. Os que antes eram fartos hoje se alugam por pão, mas os que andavam famintos não sofrem mais fome; até a estéril tem sete filhos, e a que tinha muitos filhos perde o vigor. O SENHOR é o que tira a vida e a dá; faz descer à sepultura e faz subir. O SENHOR empobrece e enriquece; abaixa e também exalta. Levanta o pobre do pó e, desde o monturo, exalta o necessitado, para o fazer assentar entre os príncipes, para o fazer herdar o trono de glória; porque do SENHOR são as colunas da terra, e assentou sobre elas o mundo. Ele guarda os pés dos seus santos, porém os perversos emudecem nas trevas da morte; porque o homem não prevalece pela força. Os que contendem com o SENHOR são quebrantados; dos céus troveja contra eles. O SENHOR julga as extremidades da terra, dá força ao seu rei e exalta o poder do seu ungido.”
Neste Salmo de louvor há uma porção de coisas dignas de nota. Enquanto as examinamos, talvez elas o estimulem a fazer um estudo pessoal e mais profundo deste texto.
Primeiro, a oração de Ana é um salmo. Várias traduções indicam isto pela maneira como o texto é disposto. A oração de Ana se parece com um dos salmos do Livro de Salmos. A oração de Ana emprega paralelismo e simbolismo, que são típicos de um salmo.
Segundo, o salmo de Ana é uma oração, uma oração que talvez ela tenha preparado para fazer antes da adoração.Diante da majestade destas palavras, não podemos nos esquecer que esta é uma oração de louvor. É um salmo, mas, como os salmos, é uma oração dirigida a Deus, uma oração de louvor e agradecimento. Algumas pessoas, quase automaticamente, presumem que Ana tenha emprestado este salmo como expressão de seu louvor a Deus. Os salmos da Bíblia colocam de forma maravilhosa nossas orações em palavras para, com muita habilidade, descrever aquilo que está dentro do nosso coração, mas não há nenhuma indicação de que este não seja um salmo composto pela própria Ana. Será que a julgamos incapaz de uma obra tão magnífica? Ou será que pensamos que Deus não possa colocar tal louvor dentro do nosso coração? Vamos em frente.
Terceiro, o salmo de Ana agora faz parte das Escrituras. Seu salmo não é mais algo seu, particular, mas é uma parte permanente das Escrituras Sagradas para todos nós lermos e repetirmos (se quisermos), e para a edificação de nossa alma.
Quarto, o salmo de Ana, portanto, é um salmo inspirado por Deus. “Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para repreensão, para correção, para educação na justiça...” (II Tm. 3:16). Uma vez que este salmo faz parte das Escrituras, sabemos que é inspirado pelo Espírito Santo de Deus (ver I Co. 2:10-13; II Pe. 1:21). Será que as palavras de Ana estão além de sua capacidade natural de expressão? Todas as palavras de cada autor inspirado das Escrituras são assim. É exatamente esta a razão pela qual podemos facilmente aceitar que Ana tenha escrito este salmo, pela capacitação do Espírito Santo.
Quinto, o salmo de Ana é fruto de suas experiências.As Escrituras não são transmitidas mecanicamente por seus autores humanos. De alguma forma misteriosa (tão misteriosa quanto Jesus é tanto divino quanto humano), a revelação de Deus é gerada mediante instrumentos humanos, com suas próprias histórias e experiências, expressando suas personalidades individuais e, ainda assim de forma a transmitir exatamente e inerrantemente as palavras de Deus.
Sexto, o salmo de Ana também parece refletir as experiências de Israel com Deus no passado. A Escritura inspirada tem sua própria forma de se relacionar com o restante das Escrituras. As palavras de louvor do salmo de Ana parecem fluir, em parte, das experiências de Israel no passado, particularmente da época do êxodo. Muitas vezes as palavras ou expressões inspiradas de um escritor são emprestadas de outro texto bíblico e, às vezes, parecem ser quase uma parte inconsciente da estrutura do pensamento do autor. Ana se refere a Deus como sua “rocha” (verso 2). Em Deuteronômio 32:30-31, Deus é descrito como a “Rocha” de Israel. No verso 1, Ana diz que sua “força” (chifre) é exaltada em Deus; Moisés usa o simbolismo do “chifre” em Deuteronômio 33:17. Quando Ana fala sobre o pobre e o necessitado sendo elevados ao poder e à proeminência, não foi isto o que aconteceu a Israel no êxodo? Quando fala dos famintos sendo alimentados, não foi o que aconteceu no êxodo? Quando fala dos poderosos sendo humilhados, não foi o que aconteceu ao Egito no êxodo? Creio que Ana via o trabalho de Deus em sua vida sob a perspectiva da obra de Deus na vida de Israel no êxodo.
Sétimo, a oração de Ana vai muito além de sua própria experiência, enfocando o caráter do verdadeiro Deus a quem ela adora e a quem louva.Diferentemente do “salmo” de Jonas (Jonas 2), mas muito parecido com os salmos do Livro de Salmos, o salmo de Ana não se concentra apenas em sua tristeza, em seu sofrimento, ou mesmo em suas bênçãos. O salmo de Ana se concentra em seu Deus. Em meio ao seu sofrimento e à sua exaltação, ela passa a ver Deus mais claramente e, como conseqüência, ela O louva por quem e pelo que Ele é. Seu salmo se refere a Deus como santo (verso 2), fiel (“rocha”, verso 2), onisciente (conhecedor de todas as coisas, verso 3), gracioso (verso 8), todo-poderoso (verso 6), soberano, o grande modificador das circunstâncias (versos 6-10). Quanta coisa há sobre Deus em tão poucos versos!
Oitavo, a oração de Ana vai muito além de suas experiências, de seu passado e presente, antecipando um futuro distante. O salmo de Ana é profético; é uma profecia. O salmo fala com ansiedade da época em que Israel terá um rei (verso 10). Creio que o salmo fala da vinda do derradeiro “Rei”, nosso Senhor Jesus Cristo, que é o cumprimento final de sua profecia messiânica. Não é por isso que o ”salmo” de Maria nos soa tão familiar (ver Lucas 1:46-55)? É bem verdade que Maria talvez veja outros paralelos entre a sua bênção e a de Ana, mas não acho que a ligação messiânica seja ignorada.
Nove, não devemos nos esquecer que, ainda que o salmo de Ana seja expressão de seu louvor e alegria, ele é oferecido na época em que ela deixa seu filho para trás, jamais tendo-o consigo novamente. Esta é a época em que Ana expressa sua alegria e gratidão a Deus pela vida de Samuel, a resposta às suas orações. É a época em que Ana expressa sua fé em Deus e sua devoção a Ele. Mas também é a época da separação, quando ela deixará Samuel em Siló e voltará para Ramá. A fidelidade de Deus no passado é a garantia de Sua fidelidade no futuro e, assim, ela pode entregar seu filho a Deus.

Conclusão

Nosso texto revela a piedade de Ana e Elcana em contraste com a lamentável paternidade de Eli e a inutilidade de seus filhos, Hofni e Finéias. Elcana é um marido piedoso, sensível à angústia de sua esposa. Ele realmente procura animá-la (dando-lhe porção dobrada da refeição sacrificial e dizendo-lhe palavras bondosas e gentis de incentivo, garantindo-lhe seu amor, mesmo que ela não tenha filhos). Ele gentilmente lhe recorda que seu espírito abatido é impróprio à adoração. Ele lhe dá liberdade para adorar sem oprimi-la ou dizer-lhe o que deve fazer. Ele deixa que ela vá adorar sozinha, quando ela faz seu voto. Ainda que ele pudesse ter anulado o voto, ele não o faz. Ele lhe dá liberdade para decidir quando subirá a Siló com Samuel.
Elcana também é piedoso em seu relacionamento com Deus. Ele cuida para que sua esposa faça as coisas direito diante de Deus. Ele é fiel ao fazer sua jornada anual a Siló, mesmo que haja boas razões para não fazê-la. Ele poderia alegar falta de tempo ou que a viagem é muito dispendiosa. Melhor ainda, ele poderia apontar a corrupção dos sacerdotes, especialmente de Hofni e Finéias, alegando não querer expor sua família à hipocrisia, à imoralidade e à brutalidade. Ele também sabe que na época do sacrifício anual Penina torna as coisas bem mais difíceis para Ana e para ele. Apesar de todas estas razões, ele pode ser visto em Siló ano após ano.
Ana é um exemplo de mulher e esposa piedosa. Ela suporta anos de sofrimento silencioso devido à sua esterilidade e à crueldade de sua rival, Penina. Ela sempre acompanha seu marido e sua família (incluindo Penina) a Siló, sabendo o quanto isto é doloroso. Seu sofrimento silencioso é enorme, sem nenhuma indicação de retaliação contra sua adversária, Penina. Ela adora a Deus fielmente, derramando suas lágrimas e súplicas. E, quando Deus responde suas orações, ela não só mantém seu voto, mas louva a Deus de tal forma que seu louvor continua inspirando e encorajando os crentes ao longo dos séculos. Tão certo quanto as falhas paternas de Eli fazem parte da conduta vergonhosa de seus filhos como sacerdotes, da mesma forma a piedade de Ana e de seu marido influencia positivamente o sacerdócio de Samuel. E, ainda hoje, também nos influencia positivamente como exemplos de fé e devoção.
Nosso texto estabelece o contexto para o desenrolar dos eventos descritos em I e II Samuel.O último verso do livro de Juízes uma vez mais menciona o fato de Israel não ter um rei nestes dias. O salmo profético de Ana fala da vinda de um rei. Ana e Elcana, como seus pares do Novo Testamento, Isabel e Zacarias (Lucas 1), não têm filhos. As duas esposas estéreis se tornam mães de um profeta que indica o rei prometido. Da mesma forma que Samuel indica tanto Saul quanto Davi, João Batista indica Jesus, o Nazareno, como o Messias e Rei de Deus.
A adoração de Ana traz grande compreensão sobre o papel da mulher na adoração nos tempos do Antigo Testamento. Seu papel não é algo público ou oficial; no entanto, ela continua tendo grande impacto espiritual na vida dos crentes ao longo dos séculos. O status público e oficial de Eli, ao contrário, nada faz por sua vida espiritual ou pela de seus filhos. Ana, em seu sofrimento silencioso, e em seu ministério oculto e discreto a Samuel, tem um impacto importante e duradouro em sua época e na nossa também. A súplica de Ana, onde ela profere seu voto, é silenciosa; no entanto, suas conseqüências têm importância nacional. Seu louvor faz parte das Escrituras Sagradas e é fonte de grande instrução, conforto e encorajamento. Mesmo não tendo posição oficial de liderança e sendo seu ministério particular, ela teve grande impacto espiritual. Que os homens e mulheres que desejam proeminência, posição e status aprendam com a maneira como Deus usou Ana e seu ministério.
O sofrimento de Ana e seu salmo são exemplos da maneira como Deus Se revela nas Escrituras. O salmo de Ana, como o restante das Escrituras, é produto do esforço humano, supervisionado e divinamente capacitado pelo Espírito Santo. O salmo é tanto produto do esforço humano quanto expressão de sua personalidade, composto pelas coisas que Ana vivenciou. Ela não poderia ter escrito esta parte das Escrituras sem ter sofrido o que sofreu às mãos de Penina, devido à sua esterilidade. Nem poderia ter escrito o que escreveu acerca do futuro sem a inspiração divina. Suas palavras que foram registradas para nós também são a Palavra de Deus.
O salmo de Ana, como qualquer outra parte das Escrituras, é o escrito de uma pessoa que reflete sua educação, sua personalidade e a história de suas experiências. É também obra do Espírito Santo, que transmite o “pensamento de Deus” para nós. Exatamente como nosso Senhor foi totalmente divino e perfeitamente humano numa só Pessoa, assim as Escrituras são produto do homem e obra de Deus num mesmo trabalho.
O salmo de Ana não poderia ter sido escrito sem o sofrimento que o precedeu. Foi Deus quem fechou o ventre de Ana. Foi Deus quem intencionalmente a fez sofrer nas mãos de uma rival cruel, Penina. Foi Deus quem orquestrou todos os momentos de sua vida, tanto dolorosos, quanto agradáveis, a fim de que resultassem num salmo que se tornou uma obra-prima. É desta forma que Deus emprega o humano e o divino na composição das Escrituras. Ainda que você e eu não escrevamos as Escrituras hoje, creio que Deus orquestra nossa história e nossa vida de maneira a nos preparar e equipar de forma única para o ministério que ele tem para nós. Que nos recusemos a ver as nossas dificuldades do passado como entraves ao presente ou ao futuro. Ao olharmos as recordações dolorosas do nosso passado, vamos encará-las como pedras fundamentais para o nosso ministério presente e futuro, regozijando-nos, portanto, em nossas tribulações e provações à luz da maneira como Deus propõe usá-las para o nosso bem e para a Sua glória.
Nosso texto é um retrato da maneira como Deus proporciona Suas bênçãos e manifesta Sua graça em meio à tristeza, ao sofrimento e às fraquezas humanas.Tendo acabado de concluir um estudo sobre I e II Coríntios, não posso deixar de ver os paralelos entre as experiências e o salmo de Ana e as experiências e as epístolas de Paulo. Considere estas palavras da pena de Paulo à luz do sofrimento de Ana e seu salmo:
“... foi-me posto um espinho na carne, mensageiro de Satanás, para me esbofetear, a fim de que não me exalte. Por causa disto, três vezes pedi ao Senhor que o afastasse de mim. Então, ele me disse: A minha graça te basta, porque o poder se aperfeiçoa na fraqueza. De boa vontade, pois, mais me gloriarei nas fraquezas, para que sobre mim repouse o poder de Cristo. Pelo que sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias, por amor de Cristo. Porque, quando sou fraco, então, é que sou forte. ” (II Co. 12:7b-10)
Como Paulo deixa bem claro em suas epístolas, o poder de Deus é demonstrado em nossas fraquezas. Isso é graça. A graça de Deus não procura ressaltar nossos pontos fortes, Sua graça busca nossos pontos mais fracos, para que fique absolutamente claro para todos que é Deus quem realiza grandes coisas por meio de nós. As coisas que causam a Ana as maiores tristezas, as maiores dores, são exatamente as mesmas coisas que Deus usa para lhe trazer grandes alegrias. Para aqueles que confiam Nele, sempre será desse jeito:
“Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o Seu propósito. Porquanto aos que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. E aos que predestinou, a esses também chamou; e aos que chamou, a esses também justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou.” (Rm. 8:28-30)
Você ama a Deus? Você é um de Seus filhos pela fé na morte, sepultamento e ressurreição de Jesus Cristo em seu lugar? Estas são as boas novas do evangelho. O evangelho não é boa-nova para aqueles que se acham justos. Para eles é uma ofensa. Essas pessoas acham que Deus lhes deve a vida eterna e desdenham a graça salvadora de Deus em Cristo como ”caridade”. Mas é caridade! Aqueles que abraçam alegremente as boas novas do evangelho sabem que não têm esperança e estão desesperadamente perdidos em seus pecados, dignos da ira eterna de Deus. Eles se regozijam no fato de não poderem comprar a salvação de Deus, pois Cristo já o fez por eles pela Sua morte, sepultamento e ressurreição. Eles recebem com gratidão o perdão dos pecados e o dom da justiça como caridade divina. E aprendem que o mesmo princípio da graça divina pelo qual foram salvos é o princípio com que Deus continua operando em nossa vida. Oro para que você tenha recebido a graça de Deus pelo dom da salvação pela fé em Jesus Cristo. Senão, oro para que você a receba e a Ele neste exato momento.

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