NO PALÁCIO DO GOVERNADOR ROMANO
"SOLTE BARRABÁS! CONDENE JESUS!"
Marcos 15,1-20
ABRIR OS OLHOS
PARA VER
Jesus é levado ao Palácio de Pilatos. Contraste estranho! Jesus,
um operário camponês do interior da Galileia que só pensava em servir aos
outros, frente a Pilatos, um político romano que só pensava em fazer carreira e
que pouco se importava com a sorte do povo judeu. Para ver-se livre do caso
incômodo, Pilatos manipula as leis e propõe soltar um preso, conforme um
costume da época! Ele esperava que o povo fosse pedir a libertação de Jesus!
Mas o povo, manipulado pelos líderes, gritou: "Solte Barrabás! Condene
Jesus!" O mesmo acontece hoje. A propaganda dos meios de comunicação consegue
manipular os fatos de tal maneira que faz aparecer como defesa dos fracos e da
paz aquilo que, na realidade, não passa de terrorismo de Estado, e vice-versa.
SITUANDO
A narrativa da paixão segue um critério geográfico. Marcos leva a
gente pelos diferentes lugares por onde Jesus passou na sua última viagem:
Betânia (Mc 14,3-9), sala da Última Ceia (Mc 14,10-31), Horto das Oliveiras (Mc
14,32-52), palácio do sumo sacerdote (Mc 14,53-72). E agora chegamos ao palácio
de Pilatos (Mc 15,1-20). Esta maneira de contar os fatos ajuda a gente a
guardá-los melhor na memória.
Nos anos 70, época em que Marcos escreveu, era ainda o mesmo
Império Romano que estava perseguindo os cristãos. Lendo e meditando a
condenação de Jesus, eles como que se olhavam num espelho e se dispunham a completar
como dizia Paulo, na própria carne o que faltava na paixão de Cristo, para
assim, desde já, experimentar algo da força da sua ressurreição que vence a
morte.
COMENTANDO
1. Marcos
15,1: Jesus é levado perante o poder romano
O processo segue o seu rumo. Conforme as leis da época, o sinédrio
podia condenar alguém à morte, mas não tinha o direito de executar a sentença.
Precisava da licença do poder romano. Por isso, as autoridades dos judeus
decidiram levar Jesus até Pilatos, a fim de conseguir a sua condenação.
2. Marcos
15,2-5: O interrogatório diante do tribunal romano
Diante do tribunal dos judeus, Jesus tinha sido condenado por dois
motivos religiosos: por ter dito que era o messias e por ter falado contra o
Templo (Mc 14,58. 62). Aqui, diante do tribunal romano, o motivo é outro. Eles
apresentam Jesus como um messias anti-romano que pretendia ser Rei dos judeus!
É um motivo político, mais fácil para se conseguir a condenação de Jesus. O
poder romano era muito sensível a qualquer tipo de rebelião popular. Pilatos
pergunta: "Você é o rei dos judeus?" Jesus responde: "É você que
está dizendo!" Jesus não assume nem nega. É como se dissesse: "É o
que se diz por aí!" Pois Jesus não era rei no sentido em que o entendiam
Pilatos e os judeus. Jesus é um rei diferente. Ele reina servindo!
Em seguida, Jesus se cala e não fala mais nada, nem mesmo para se
defender. Pilatos estranha. Ele não entende o silêncio, mas o leitor entende: o
silêncio revela que Jesus é o Messias Servo de que falava o profeta Isaías:
"Não abre a boca diante dos que o acusam" (Is 53,7). Revela também
a liberdade de Jesus e o seu total desacordo com a manipulação da verdade.
Revela a sua vitória sobre a morte.
3. Marcos
15,6-10: Pilatos manipula a lei em seu favor
Incomodado, Pilatos procura uma saída. Percebeu que tinham
entregado Jesus por inveja e raiva. Naquela época, havia um costume, uma
espécie de lei não escrita, de soltar um preso por ocasião da Páscoa. Pilatos
manipula este costume em seu favor e propõe uma alternativa: Barrabás ou Jesus.
"Barrabás estava preso junto com os rebeldes que tinham cometido um
assassinato na revolta". Pilatos esperava que fossem pedir a libertação de
Jesus. Enganou-se!
4. Marcos
15,11-15: Os chefes dos sacerdotes são mais espertos que Pilatos
Os chefes dos sacerdotes, por sua vez, manipulam o povo
presente ao ato e conseguem que todos gritem: "Solte Barrabás! Crucifique
Jesus!" Pilatos foi fraco. Não soube resistir, deu a sentença final e
Jesus foi condenado. Como entender que os sumos sacerdotes tenham
conseguido manipular o povo contra Jesus? Não convém esquecer
que Jesus era da Galileia Tinha estado poucas vezes em
Jerusalém. O povo da cidade era empregado do Templo. Milhares de
operários ganhavam lá o seu salário. O Templo era o seu ganha-pão.
Jesus tinha falado contra o Templo, assim diziam, e tinha expulsado os
vendedores. Por isso, era relativamente fácil manipular a opinião
pública contra Jesus.
5. Marcos
15,16-20: A reação dos soldados
Depois de condenado, Jesus é esbofeteado, ridicularizado e cuspido
no rosto. Aqui, novamente, aparece o Messias Servo, anunciado por Isaías,
que foi preso, cuspido no rosto e teve a barba arrancada: "Ofereci
as costas aos que me feriam e as faces aos que me arrancavam a barba; não
escondi o rosto aos que me afrontavam e me cuspiam" (Is 50,6).
ALARGANDO
O poder romano
na terra de Jesus
Este texto descreve o confronto de Jesus com o poder romano. No
ano 63 antes de Cristo, os romanos tinham invadido toda a Palestina, que
compreendia Galileia no norte, Samaria no centro e Judeia no sul. Inicialmente,
os romanos foram bem acolhidos pelos judeus. Mas, logo mostraram sua
verdadeira face oprimindo e explorando o povo através de tributos, impostos,
taxas, dízimos e outros roubos legalizados. Por isso, de 57 a 37 A.C., em
apenas 20 anos, só na Galileia estouraram seis revoltas dos camponeses
contra a dominação romana. O povo ia atrás de qualquer um que prometia
libertá-lo do peso dos romanos. As revoltas foram duramente reprimidas.
Quem ajuda os romanos na repressão ao povo revoltado, foi um tal
de Herodes, que, como pagamento pelos seus esforços, recebeu dos romanos o
título de rei sobre toda a Palestina e, de 37 a 4 A.C., governou sobre Galileia Samaria e Judeia Para agradar aos romanos, ele promovia a assim
chamada Paz Romana. Esta paz trouxe certa estabilidade econômica para o Império
e para o próprio Herodes, mas para o povo dominado da Palestina não era paz, e
sim repressão brutal. Jesus nasceu no final do governo deste Herodes. Herodes,
chamado o Grande, é aquele que matou as crianças de Belém (Mt 2,16).
OBS: Um frade chamado Dionísio Pequeno, do século VI, calculou a
data do nascimento de Jesus. Ele errou por uma pequena margem de 5 ou 6 anos.
Jesus nasceu 5 ou 6 anos antes da data calculada pelo frade.
Depois da morte de Herodes, Arquelau, seu filho, assumiu o governo
sobre a Judeia O irmão dele, Herodes Antipas, recebeu o governo sobre a Galileia Arquelau era um homem cruel e incompetente. Já na sua tomada de
posse, no dia da Páscoa, reprimiu uma reivindicação popular e matou 3 mil
peregrinos na praça do templo em Jerusalém. A matança fez explodir a revolta do
povo, que, duramente reprimida, provocou uma forte repressão romana. O governo
de Arquelau sobre a Judeia foi muito violento. Por isso, José e Maria, depois
da fuga no Egito, não quiseram voltar para Belém na Judeia e resolveram ir
morar em Nazaré na Galiléia, junto com o menino Jesus (Mt 2,22).
No ano 6 depois de Cristo, - Jesus tinha em torno de 10 anos -
Arquelau foi deposto pelos romanos, que estavam insatisfeitos com o mau
rendimento do governo dele. Para terem um controle melhor da situação,
transformaram a Judéia numa província romana, cujo governador ou procurador era
nomeado diretamente pela autoridade central do Império, com sede em Roma. Para
poder reorganizar a administração e atualizar o pagamento do tributo, decretou
um recenseamento, o que provocou forte reação popular, inspirada pelo Zelo pela
Lei. O Zelo levava o povo a boicotar o censo e a não pagar o tributo. Era uma
nova forma de resistir contra o império, uma espécie de desobediência civil.
Neste período, Jesus crescia em sabedoria e idade diante de Deus e dos homens,
lá em Nazaré.
Assim, de 6 a 44 depois de Cristo, a Judéia era governada por
procuradores, representantes diretos do poder romano. A maior parte dos
procuradores romanos eram funcionários que não gostavam dos judeus. A
forte repressão e o desprezo deles pelo povo judeu fizeram crescer o ódio
anti-romano. Um deles, o senhor Pôncio Pilatos, governou de 26 a 36 d.C. Foi
ele que, a pedido da elite dos judeus, sancionou com o seu poder a sentença de
morte contra Jesus.
A residência dos procuradores ficava na cidade de Cesaréia, no
litoral. Somente quando havia alguma ameaça de manifestação popular, por
exemplo, na festa de Páscoa, eles se transferiam para Jerusalém para poder
controlar melhor a situação e reprimir qualquer tentativa de revolta. É que,
por ocasião da festa anual de Páscoa, aumentava no povo a expectativa
messiânica e milhares de romeiros se concentravam ao redor do Templo. Por
isso, nos dias em que Jesus foi preso, Pilatos se encontrava em Jerusalém. Foi
diante dele que Jesus compareceu e por ele foi condenado à morte de Cruz.
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